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terça-feira, 13 de setembro de 2011

Livro dos Mártires - Parte 51

CAPÍTULO 21 - As perseguições contra os protestantes franceses no sul da França, durante os anos 1814 e 1820


A perseguição nesta parte protestante da França prosseguiu com poucas interrupções desde a revogação do édito de Nantes, por Luis XIV, até um período muito breve antes do começo da Revolução Francesa. No ano 1785, o senhor Rebaut St. Etienne e o célebre senhor de La Fayette foram as primeiras pessoas em interessar-se ante a corte de Luis XVI para eliminar o açoite da perseguição contra esta sofredora gente, os habitantes do sul da França.
Tal era a oposição de parte dos católicos e dos cortesãos, que não foi até o final do ano 1790 que os protestantes se viram livres de seus alarmes. Antes disto, os católicos, em particular em Nimes, tinham recorrido às armas. Nimes apresentara um terrível espetáculo: homens armados correndo por todas partes da cidade, disparando desde as esquinas, e atacando a todos os que encontravam, com espadas e foices.
Um homem chamado Astuc foi ferido e lançado no aqueduto. Baudon caiu sob os repetidos golpes de baionetas e sabres, e seu corpo foi lançado também na água; Boucher, um jovem de somente dezessete anos de idade, foi morto de um disparo enquanto olhava desde sua janela; três eleitores foram feridos, um deles de consideração; outros eleitor foi ferido, e outro escapou da morte declarando várias vezes que era católico; um terceiro recebeu três feridas de sabre, e foi levado a sua casa terrivelmente mutilado. Os cidadãos que fugiam eram detidos pelos católicos nos caminhos, e obrigados a dar prova de sua religião antes de concedê-lhes a vida. O senhor e a senhora Vogue estavam em sua casa de campo que os fanáticos forçaram, e mataram a ambos, destruindo sua vivenda. Blacher, um protestante de sessenta anos, foi despedaçado com uma foice; ao jovem Pyerre, que levava alimentos para seu irmão, lhe perguntaram: "Católico ou protestante?" Ao responder "Protestante", um daqueles monstros disparou contra o menino, que caiu. Um dos companheiros do assassino disse: "Igual poderias ter matado um cordeiro". "Jurei" repus o outro "matar a quatro protestantes como minha parte, e este contará como um deles". Contudo, como estas atrocidades levaram às tropas a unir-se em defesa do povo, caiu uma terrível vingança sobre o partido católico que tinha tomado as armas, o qual, junto com outras circunstâncias, como a tolerância exercida por Napoleão Bonaparte, os refreou totalmente até o ano 1814, quando o inesperado retorno do antigo regime voltou a uni-los sob as antigas bandeiras.

A chegada do rei Luis XVIII a Paris
Esta chegada se soube em Nimes o 13 de abril de 1814. Quinze minutos depois via-se por todas partes a divisa branca, ondeava a bandeira branca nos edifícios públicos, nos esplêndidos monumentos da antigüidade, e inclusive na torre de Mange, fora das muralhas da cidade. Os protestantes, cujo comércio tinha sofrido durante a guerra, estiveram entre os primeiros em unir-se ao regozijo geral, e em enviar sua adesão ao senado, e ao corpo legislativo, e vários dos departamentos protestantes enviaram mensagens ao trono, mas desafortunadamente o senhor Froment estava de novo em Nimes naquele tempo, com muitos fanáticos dispostos a segui-lo, e a cegueira e a fúria do século dezesseis rapidamente tomaram o lugar da filantropia do século dezenove. De imediato se traçou uma linha de distinção entre pessoas de diferentes persuasões religiosas; o espírito da antiga Igreja católica era novamente o de regular a parte que cada um deveria ter de estima e de seguridade.
A diferença de religião iria agora a governá-lo tudo; e inclusive os criados católicos que tinham servido a protestantes com zelo e afeto começaram a descuidar seus deveres ou a executá-los com falta de vontade e hostilidade. Nos festejos e espetáculos dados a conta do erário público, se usou a ausência dos protestantes para acusá-los de deslealdade; e em meio de clamores de "Vive le Roi" se ouviram os clamores dissonantes de "Abás le Maire" (abaixo o alcaide). O senhor Castletam era protestante; apareceu em público com o prefeito Ruland, que era católico, e o expulsaram a pontapés, e a gente disse que devia renunciar a seu cargo. Os fanáticos de Nimes lograram inclusive que se apresentasse uma mensagem ao rei, na que diziam que na França somente devia haver um Deus, um rei e uma fé. Nisto foram imitados pelos católicos de várias cidades.

A história do menino de prata
Para este tempo, o senhor Baron, conselheiro do Tribunal Real de Nimes, adotou o plano de dedicar a Deus um menino de prata, se a duquesa de Angulema dava a um príncipe a França. Este projeto foi adotado como um voto religioso público, que era tema de conversação em público e em privado, enquanto que várias pessoas, com a imaginação acendida por este projeto, corriam pelas ruas gritando "Vivent les Bourbons" (Vivam os Borbons). Como conseqüência deste desenfreio supersticioso, se diz que em Alais se aconselhou e instigou às mulheres para que envenenassem seus maridos protestantes, e afinal se encontrou conveniente acusá-los de crimes políticos. Já não podiam aparecer em público sem serem insultados e injuriados. Quando a plebe se encontrava com protestantes, os tomavam e dançavam em volta deles com um bárbaro regozijo, e em meio de repetidos gritos de "Vive le Roi" cantavam versos cujo sentido era: "Nos lavaremos as mãos em sangue protestante, e faremos morcelas com o sangue dos filhos de Calvino".
Os cidadãos que saiam a passear buscando ar e frescor fora das ruas fechadas e sujas eram afugentados com gritos de "Vive le Roi", como se aqueles gritos pudessem justificar todos seus excessos. Se os protestantes faziam referência ao estatuto, lhes asseguravam sem voltas que de nada lhes serviria, e que somente tinham conseguido assegurar mais sua efetiva destruição. Ouviu-se a pessoas de categoria dizer em público: "Deve matar-se a todos os huguenotes; desta vez se deve matar a seus filhos, para que não sobre ninguém desta maldita ralé".
É verdade, contudo, que não eram assassinados, senão tratados com crueldade; as crianças protestantes não podiam já misturar-se nos jogos com as católicas, e nem sequer lhes era permitido aparecer sem seus pais. Quando escurecia, as famílias se encerravam em seus aposentos, porém inclusive então se lançavam pedras contra as janelas. Quando se levantavam pela manhã, não era fora do comum encontrar desenhos de forcas em suas portas ou paredes; e nas ruas os católicos aferravam cordas já ensaboadas diante de seus olhos, apontando os instrumentos com os que esperavam e tramavam acabar com eles. Se passavam de uns a outros pequenas forcas ou modelos das mesmas, e um homem que vivia diante de um destes pastores exibiu um destes modelos em sua janela, e fazia sinais bem significativos quando o ministro passava. Também penduraram numa encruzilhada de caminhos públicos uma figura representando um predicador protestante, e cantavam os mais atrozes cânticos embaixo de suas janelas.
Para o final do carnaval tinha-se inclusive formado o plano de realizar uma caricatura de quatro ministros do lugar, e queimá-los em efígie; porém isto foi impedido pelo alcaide de Nimes, que era protestante. Uma terrível canção foi apresentada ao prefeito, na língua da região, com uma tradução falsa, e impressa com sua aprovação, e teve muita aceitação antes que ele percebesse o erro ao que tinha sido induzido. O sexagésimo terceiro regimento de linha foi publicamente censurado e vaiado por ter protegido os protestantes em cumprimento das ordens recebidas. De fato, os protestantes pareciam ovelhas destinadas ao matadouro.

As armas católicas em Beaucaire
Em maio de 1815, muitas pessoas de Nimes pediram uma associação federativa similar à de Lyon, Grenoble, Paris, Avinhon e Montpelier, mas esta federação acabou aqui após a efêmera e ilusória existência de quatorze dias. Enquanto isso, um grande partido de zelotes católicos tinha-se armado em Beaucaire, e prontamente levaram suas patrulhas tão perto das muralhas de Nimes "que alarmaram os habitantes". Estes católicos pediram ajuda aos ingleses que se encontravam atracados no porto de Marselha, e obtiveram a doação de mil mosquetes, dez mil cartuchos, etc. Contudo, o general Gilly foi logo enviado contra estes guerrilheiros, impedindo-lhes de chegar a maiores ações, concedendo-lhes um armistício. Não obstante, quando Luis XVIII houve voltado a Paris, após o final do reinado de Napoleão de cem dias, e pareceram estabelecer-se a paz e diminuir os espíritos partidários, inclusive em Nimes, bandos de Beaucaire se uniram a Trestaillon nesta cidade, para cumprir a vingança premeditada durante tanto tempo. O general Gilly tinha deixado o departamento fazia já vários dias; as tropas que deixou atrás de si tinham assumido a divisa branca, e esperavam novas ordens, enquanto que os novos comissionados tinham somente de proclamar o cesse das hostilidades e o total estabelecimento da autoridade real. Foi em vão; não apareceram comissionados, não chegaram despachos para acalmar e regular a mente do público; porém para a tarde entrou na cidade a vanguarda dos bandidos, que ascendia a várias centenas, indesejados mas sem que ninguém se opusesse a eles.
Enquanto marchavam sem ordem nem disciplina, cobertos com roupas ou farrapos multicores, enfeitados com divisas, não brancas, senão brancas e verdes, armados com mosquetes, sabres, forcas, pistolas e foices, bêbados e manchados do sangue dos protestantes que tinham encontrado pelo caminho, apresentavam um aspecto do mais repulsivo e pavoroso. Na praça aberta diante dos quartéis, se uniram a estes bandidos o populacho armado da cidade, encabeçados por Jacques Dupont, comumente chamado Trestallion. Para poupar derramamentos de sangue, a guarnição de uns quinhentos homens consentiu em capitular, e saiu abatida e indefesa; porém apenas tinham passado uns cinqüenta, a gentalha começou a disparar a discrição contra suas confiadas vítimas, totalmente carentes de proteção; quase todos morreram ou foram feridos, mas uma quantidade muito pequena puderam voltar a entrar no pátio antes que fechassem de novo os portões da guarnição.

Matança e saqueio em Nimes
Nimes exibia agora uma cena do mais terrível de ultrajem e carnificina, embora muitos dos protestantes tinham fugido a Convennes e a Gardo­nenque. As casas de campo dos senhores Rey, Guiret e outras tinham sido saqueadas, e os habitantes tratados com uma barbárie desapiedada. Dois partidos tinham saciado suas sacrílegas inclinações na granja de Madame Frat; o primeiro, após comer, beber e quebrar a mobília, anunciou a chegada de seus camaradas, "em comparação dos quais", disseram, "eles seriam considerados misericordiosos". Restaram três homens e uma anciã naquele lugar; ao verem chegar a segunda companhia, dois dos homens fugiram. "És católica?", lhe perguntaram dois dos bandidos à anciã. "Sim". "Então, recita o Pater e o Ave". Aterrorizada como estava, ela vacilou, e no instante lhe deram uma pancada com a culatra do mosquete. Ao voltar em si, fugiu da casa, mas se encontrou com Ladet, o velho mordomo, que trazia uma salada que seus atacantes tinham-lhe ordenado preparar. Em vão tratou de persuadi-lo para que fugisse. "És protestante?", lhe perguntaram. "Sim". Descarregando-lhe um mosquete acima, caiu ferido, porém não morto. Para consumar sua obra, aqueles monstros acenderam um fogo com palha e tábuas, lançaram sua vítima ainda viva nas chamas, e a deixaram morrer nas mais atrozes agonias. Depois comeram a salada, a omelete, etc. no dia seguinte, alguns trabalhadores, vendo a casa aberta e abandonada, entraram e descobriram o corpo meio consumido de Ladet. O prefeito de Gard, o senhor Darbaud Jouques, tratando de paliar os crimes dos católicos, teve a audácia de afirmar que Ladet era católico; mas isto foi contradito publicamente por dois dos pastores de Nimes.
Outra partida cometeu um terrível assassinato em St. Cezàire, matando a Imbert la Plume, marido de Suzon Chivas. O encontraram ao voltar de trabalhar nos campos. O líder lhe prometeu perdoá-lhe a vida, mas insistiu em que devia levá-lo ao cárcere de Nimes. Vendo, contudo, que os da partida estavam decididos a matá-lo, assumiu seu caráter natural, e sendo um homem forte e corajoso, adiantou-se e exclamou: "Vós sois bandidos! Fogo!" Quatro deles dispararam e ele caiu, porém não morto; e enquanto estava ainda com vida lhe mutilaram o corpo; depois, passando uma corda em sua volta, o arrastaram, amarrado a um canhão do qual tinham-se apoderado. Não foi até depois de oito dias que seus parentes souberam de sua morte. Cinco pessoas da família de Chivas, todos eles casados e pais de família, foram mortos no curso de poucos dias.
O desalmado tratamento das mulheres, nesta perseguição de Nimes, foi de tal natureza que teria ofendido a qualquer selvagem que tiver sabido disso. As viúvas Rivet e Bernard foram obrigadas a entregarem enormes quantidades de dinheiro; a casa da senhora Lecointe foi devastada, e seus bens, destruídos. A senhora F. Didier viu sua morada saqueada e quase arrasada até o nível da terra. Uma partida destes fanáticos visitou a viúva Perrin, que morava numa pequena granja nos cata-ventos; após cometer todo tipo de devastações, atacaram inclusive o campo-santo, que continha os mortos da família. Tiraram os ataúdes e espalharam o conteúdo por campos limítrofes. Em vão recolheu esta ultrajada viúva os ossos de seus antepassados para voltara a colocá-los em seu lugar; de novo os exumaram; finalmente, depois de várias inúteis tentativas, ficaram espalhados na superfície dos campos.

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