Jó 9
6 o que sacode a terra do seu lugar, de modo que as suas colunas estremecem;
7 o que dá ordens ao sol, e ele não nasce; o que sela as estrelas;
8 o que sozinho estende os céus, e anda sobre as ondas do mar;
9 o que fez a ursa, o Oriom, e as Plêiades, e as recâmaras do sul;
10 o que faz coisas grandes e insondáveis, e maravilhas que não se podem contar.
11 Eis que ele passa junto a mim, e, nao o vejo; sim, vai passando adiante, mas não o percebo.
12 Eis que arrebata a presa; quem o pode impedir? Quem lhe dirá: Que é o que fazes?
13 Deus não retirará a sua ira; debaixo dele se curvaram os aliados de Raabe;
14 Quanto menos lhe poderei eu responder ou escolher as minhas palavras para discutir com ele?
15 Embora, eu seja justo, não lhe posso responder; tenho de pedir misericórdia ao meu juiz.
16 Ainda que eu chamasse, e ele me respondesse, não poderia crer que ele estivesse escutando a minha voz.
17 Pois ele me quebranta com uma tempestade, e multiplica as minhas chagas sem causa.
18 Não me permite respirar, antes me farta de amarguras.
19 Se fosse uma prova de força, eis-me aqui, diria ele; e se fosse questão de juízo, quem o citaria para comparecer?
20 Ainda que eu fosse justo, a minha própria boca me condenaria; ainda que eu fosse perfeito, então ela me declararia perverso:
21 Eu sou inocente; não estimo a mim mesmo; desprezo a minha vida.
22 Tudo é o mesmo, portanto digo: Ele destrói o reto e o ímpio.
23 Quando o açoite mata de repente, ele zomba da calamidade dos inocentes.
24 A terra está entregue nas mãos do ímpio. Ele cobre o rosto dos juízes; se não é ele, quem é, logo?
25 Ora, os meus dias são mais velozes do que um correio; fogem, e não vêem o bem.
26 Eles passam como balsas de junco, como águia que se lança sobre a presa.
27 Se eu disser: Eu me esquecerei da minha queixa, mudarei o meu aspecto, e tomarei alento;
28 então tenho pavor de todas as minhas dores; porque bem sei que não me terás por inocente.
29 Eu serei condenado; por que, pois, trabalharei em vão?
30 Se eu me lavar com água de neve, e limpar as minhas mãos com sabão,
31 mesmo assim me submergirás no fosso, e as minhas próprias vestes me abominarão.
32 Porque ele não é homem, como eu, para eu lhe responder, para nos encontrarmos em juízo.
33 Não há entre nós árbitro para pôr a mão sobre nós ambos.
34 Tire ele a sua vara de cima de mim, e não me amedronte o seu terror;
35 então falarei, e não o temerei; pois eu não sou assim em mim mesmo.
Jó 10
1 Tendo tédio à minha vida; darei livre curso à minha queixa, falarei na amargura da minha alma:
2 Direi a Deus: Não me condenes; faze-me saber por que contendes comigo.
3 Tens prazer em oprimir, em desprezar a obra das tuas mãos e favorecer o desígnio dos ímpios?
4 Tens tu olhos de carne? Ou vês tu como vê o homem?
5 São os teus dias como os dias do homem? Ou são os teus anos como os anos de um homem,
6 para te informares da minha iniqüidade, e averiguares o meu pecado,
7 ainda que tu sabes que eu não sou ímpio, e que não há ninguém que possa livrar-me da tua mão?
8 As tuas mãos me fizeram e me deram forma; e te voltas agora para me consumir?
9 Lembra-te, pois, de que do barro me formaste; e queres fazer-me tornar ao pó?
10 Não me vazaste como leite, e não me coalhaste como queijo?
11 De pele e carne me vestiste, e de ossos e nervos me teceste.
12 Vida e misericórdia me tens concedido, e a tua providência me tem conservado o espírito.
13 Contudo ocultaste estas coisas no teu coração; bem sei que isso foi o teu desígnio.
14 Se eu pecar, tu me observas, e da minha iniqüidade não me absolverás.
15 Se for ímpio, ai de mim! Se for justo, não poderei levantar a minha cabeça, estando farto de ignomínia, e de contemplar a minha miséria.
16 Se a minha cabeça se exaltar, tu me caças como a um leão feroz; e de novo fazes maravilhas contra mim.
17 Tu renovas contra mim as tuas testemunhas, e multiplicas contra mim a tua ira; reveses e combate estão comigo.
18 Por que, pois, me tiraste da madre? Ah! se então tivera expirado, e olhos nenhuns me vissem!
19 Então fora como se nunca houvera sido; e da madre teria sido levado para a sepultura.
20 Não são poucos os meus dias? Cessa, pois, e deixa-me, para que por um pouco eu tome alento;
21 antes que me vá para o lugar de que não voltarei, para a terra da escuridão e das densas trevas,
22 terra escuríssima, como a própria escuridão, terra da sombra trevosa e do caos, e onde a própria luz é como a escuridão.
Jó 11
1 Então respondeu Zofar, o naamatita, dizendo:
2 Não se dará resposta à multidão de palavras? ou será justificado o homem falador?
3 Acaso as tuas jactâncias farão calar os homens? e zombarás tu sem que ninguém te envergonhe?
4 Pois dizes: A minha doutrina é pura, e limpo sou aos teus olhos.
5 Mas, na verdade, oxalá que Deus falasse e abrisse os seus lábios contra ti,
6 e te fizesse saber os segredos da sabedoria, pois é multiforme o seu entendimento; sabe, pois, que Deus exige de ti menos do que merece a tua iniqüidade.
7 Poderás descobrir as coisas profundas de Deus, ou descobrir perfeitamente o Todo-Poderoso?
8 Como as alturas do céu é a sua sabedoria; que poderás tu fazer? Mais profunda é ela do que o Seol; que poderás tu saber?
9 Mais comprida é a sua medida do que a terra, e mais larga do que o mar.
10 Se ele passar e prender alguém, e chamar a juízo, quem o poderá impedir?
11 Pois ele conhece os homens vãos; e quando vê a iniqüidade, não atentará para ela?
12 Mas o homem vão adquirirá entendimento, quando a cria do asno montês nascer homem.
13 Se tu preparares o teu coração, e estenderes as mãos para ele;
14 se há iniqüidade na tua mão, lança-a para longe de ti, e não deixes a perversidade habitar nas tuas tendas;
15 então levantarás o teu rosto sem mácula, e estarás firme, e não temerás.
16 Pois tu te esquecerás da tua miséria; apenas te lembrarás dela como das águas que já passaram.
17 E a tua vida será mais clara do que o meio-dia; a escuridão dela será como a alva.
18 E terás confiança, porque haverá esperança; olharás ao redor de ti e repousarás seguro.
19 Deitar-te-ás, e ninguém te amedrontará; muitos procurarão obter o teu favor.
20 Mas os olhos dos ímpios desfalecerão, e para eles não haverá refúgio; a sua esperança será o expirar.
Jó 12
1 Então Jó respondeu, dizendo:
2 Sem dúvida vós sois o povo, e convosco morrerá a sabedoria.
3 Mas eu tenho entendimento como, vos; eu não vos sou inferior. Quem não sabe tais coisas como essas?
4 Sou motivo de riso para os meus amigos; eu, que invocava a Deus, e ele me respondia: o justo e reto servindo de irrisão!
5 No pensamento de quem está seguro há desprezo para a desgraça; ela está preparada para aquele cujos pés resvalam.
6 As tendas dos assoladores têm descanso, e os que provocam a Deus estão seguros; os que trazem o seu deus na mão!
7 Mas, pergunta agora às alimárias, e elas te ensinarão; e às aves do céu, e elas te farão saber;
8 ou fala com a terra, e ela te ensinará; até os peixes o mar to declararão.
9 Qual dentre todas estas coisas não sabe que a mão do Senhor fez isto?
10 Na sua mão está a vida de todo ser vivente, e o espírito de todo o gênero humano.
11 Porventura o ouvido não prova as palavras, como o paladar prova o alimento?
12 Com os anciãos está a sabedoria, e na longura de dias o entendimento.
13 Com Deus está a sabedoria e a força; ele tem conselho e entendimento.
14 Eis que ele derriba, e não se pode reedificar; ele encerra na prisão, e não se pode abrir.
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