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terça-feira, 9 de agosto de 2011

Livro dos Mártires - Parte 16


Relação de perseguições nos vales do Piemonte
Muitos dos valdenses, para evitarem as perseguições as que estavam continuamente submetidos na França, foram e se assentaram nos vales do Piemonte, onde cresceram muito, e floresceram em grande medida por um espécie considerável de tempo.
Embora fossem de conduta irrepreensível, inofensivos em sua conduta, e pagavam seus dízimos ao clero romanista, contudo estes não estavam satisfeitos, senão que queriam perturbá-los; assim, se queixaram ao arcebispo de Torino de que os valdenses dos vales do Piemonte eram hereges, por estas razões:
1) Não acreditavam nas doutrinas da Igreja de Roma.
2) Não faziam oferendas nem orações pelos mortos.
3) Não iam à missa.
4) Não se confessavam nem recebiam absolvição.
5) Não acreditavam no Purgatório, nem pagavam dinheiro para tiram as almas de seus amigos dali.
Por estas acusações, o arcebispo ordenou uma perseguição contra eles, e muitos caíram vítimas da supersticiosa fúria dos sacerdotes e monges.
Em Torino, destriparam um dos reformados, e colocaram suas entranhas numa bacia diante de seu rosto, onde ficou vendo-as até expirar. Em Revel, estando Catelin Girard amarrado na estaca, pediu ao algoz que lhe desse uma pedra, ao que este recusou, achando que queria lançá-la a alguém. Mas Girard lhe assegurou que não tinha tal intenção, e o carrasco aceitou. Então Girard, olhando intensamente a pedra, lhe disse: "Quando o homem seja capaz de comer e digerir esta sólida pedra, se esvaecerá a religião pela qual vou sofrer, e não antes". Depois lançou a pedra no chão, e se submeteu com inteireza às labaredas. Muitos outros dos reformados foram oprimidos, ou mortos, por vários médios, até que, esgotada a paciência dos valdenses, recorreram às armas em defesa própria, e se constituíram em milícias regulares.
Exasperado por esta ação, o bispo de Torino conseguiu um número de tropas e as enviou contra eles, mas na maior parte dos encontros e lutas os valdenses se saíram vitoriosos, o que se devia em parte a que estavam mais familiarizados com as passagens dos vales do Piemonte que seus adversários, e em parte pelo desespero com que lutavam. Porque sabiam bem que se fossem capturados, não seriam considerados prisioneiros de guerra, mas seriam torturados até a morte como hereges.
No final, Felipe VII, duque de Sabóia, e senhor supremo do Piemonte, decidiu impor sua autoridade e deter estas sangrentas guerras que tanto perturbavam seus domínios. Não estava disposto a ficar mal com o Papa nem a enfrentar-se com o arcebispo de Torino; contudo, enviou-lhes mensagens, dizendo-lhes que não podia já silenciar mais vendo como seus domínios eram ocupados por tropas dirigidas por sacerdotes em lugar de oficiais, e mandadas por prelados em lugar de generais; e que também não permitiria que seu país ficasse despovoado, porquanto nem sequer tinha sido consultado a este respeito.
Os sacerdotes, ao verem a resolução do duque, fizeram tudo quanto podiam por voltar sua mente em contra dos valdenses; porém o duque lhes disse que embora ainda não estava familiarizado com a religião daquelas pessoas, sempre os tinha considerado como calmos, fiéis e obedientes, e por isso havia decidido que não fossem já mais perseguidos.
Os sacerdotes recorreram então às falsidades mais claras e absurda; lhe asseguraram que estava errado a respeito dos valdenses, porque se tratava de umas pessoas mais que malvadas, e entregues à intemperança, à imundícia, à blasfêmia, ao adúltero, incesto e muitos outros crimes abomináveis; e que inclusive eram monstros da natureza, porquanto seus filhos nasciam com as gargantas pretas, com quatro fileiras de dentes e corpos peludos.
O duque não estava tão privado se sentido comum como para acreditar no que diziam os sacerdotes, embora afirmassem da forma mais solene a veracidade de seus assertos. Contudo, enviou doze homens eruditos e razoáveis aos vales do Piemonte para examinar o verdadeiro caráter de seus moradores.
Este cavalheiros, depois de viajar por todas suas cidades e povoados, e de conversar com pessoas de todas as classes entre os valdenses, voltaram ao duque, e lhe deram um informe do mais favorável acerca deles, afirmando, diante mesmo dos sacerdotes que os haviam vilipendiado, que eram inocentes, inofensivos, leais, amistosos, laboriosos e piedosos; que aborreciam os crimes dos que eram acusados, e que sem algum deles, por sua própria depravação, caia em algum daqueles crimes, seria castigado peãs suas próprias leis de maneira mais exemplar. "E a respeito das crianças", disseram os cavalheiros, "os sacerdotes disseram as falsidades mais torpes e ridículas, pois nem nascem com as gargantas pretas, nem com dentes, nem peludos, senão que são meninos formosos como o que mais. E para convencer a sua alteza do que dissemos (continuou um dos cavalheiros), trouxemos conosco a doze dos varões principais, que acudiram a pedir perdão em nome do resto por terem tomado as armas sem vossa permissão, embora em defesa própria, para proteger suas vidas frente a estes implacáveis inimigos. E do mesmo modo trouxemos a várias mulheres com crianças de variadas idades, para que vossa alteza tenha a oportunidade de examiná-los tanto como quiser".
O duque, após aceitar as escusas dos doze delegados, de conversar com as mulheres e de examinar as crianças, os despediu gentilmente. Depois ordenou aos sacerdotes, que haviam tentado enganá-lo, que abandonassem sua corte nesse instante, e deu ordens estritas de que a perseguição cessasse em seus domínios.
Os valdenses gozaram de paz por muitos anos, até a morte de Felipe, duque de Sabóia; porém seu sucessor resultou ser um fanático papista. Para a mesma época, alguns dos principais valdenses propuseram que seu clero predicasse em público, para que todos pudessem conhecer a pureza de suas doutrinas. Até então somente tinham predicado em privado e a congregações que sabiam com certeza serem constituídas somente por pessoas de religião reformada.
Ao ouvir estas sugestões, o novo duque se irritou sobremodo, e enviou um grande corpo de exército aos vales, jurando que se aquelas pessoas não mudavam de religião, os faria esfolar vivos. O comandante das tropas pronto viu o impraticável que era vencê-los com o número de soldados que trazia consigo, e por isso enviou uma mensagem ao duque dizendo-lhe que a idéia de subjugar os valdenses com uma força tão pequena era ridícula; que aquela gente conhecia melhor o país que qualquer dos que estavam com ele; que haviam-se apoderado de todas as passagens, que estavam bem armados. E totalmente decididos a defender-se; e que, a respeito de esfolá-los, disse que a pele pertencente a estas pessoas custaria a vida de uma dúzia dos seus.
Aterrado ante esta informação, o duque retirou as tropas, decidindo não agir pela força, mas por estratagemas. Por isso, ordenou recompensas pela apreensão Deus qualquer dos valdenses que pudessem ser achados perdidos fora de seus lugares fortes; e que estes, se eram tomados, fossem ou bem esfolados vivos, ou queimados.
Os valdenses tinham até então só o Novo Testamento e uns poucos livros do Antigo Testamento na língua valdenses, mas agora decidiram completar os escritos sagrados em sua própria língua. Empregaram então um impressor suíço que lhes provesse uma edição completa do Antigo e Novo Testamento em língua valdense, o que fez por causa das quinze mil coroas de ouro que estas piedosas pessoas lhe pagaram.
Ao aceder a cadeira pontifícia o Papa Paulo III, um fanático papista, de imediato solicitou ao parlamento de Torino que os valdenses fossem perseguidos como os hereges mais perniciosos.
O parlamento acedeu logo, e vários foram rapidamente apresados e queimados por ordem sua. Entre estes estava Bartolomeu Heitor, livreiro e papeleiro de Torino, quem tinha sido criado como católico-romano, mas que, tendo lido alguns tratados escritos pelo clero reformado, tinha ficado inteiramente convencido dos erros da Igreja de Roma; mas sua mente tinha permanecido vacilando durante certo tempo, e lhe custava decidir que religião abraçar.
No final, não obstante, abraçou plenamente a religião reformada, e foi apreendido, como já dissemos, e queimado por ordem do parlamento de Torino.
Agora o parlamento de Torino celebrou uma consulta, na qual concordou enviar certos delegados aos vales do Piemonte, com as seguintes proposições:
1) Que se os valdenses entravam no seio da Igreja de Roma e abraçavam a religião católica-romana, desfrutariam de suas casas, propriedades e terras, e viveriam com suas famílias, sem a mais mínima moléstia.
2) Que para demonstrar sua obediência, deveriam enviar doze de suas pessoas principais, com todos seus ministros e mestres, a Torino, para que fossem tratados circunstancialmente.
3) Que o Papa, o rei da França e o duque de Sabóia aprovavam e autorizavam os procedimentos do parlamento de Torino nesta ocasião.
4) Que se os valdenses dos vales do Piemonte recusavam aceder a estas proposições, lhes sobreviria uma perseguição, e que sua sorte seria uma morte certa.
A cada uma destas proposições responderam os valdenses da seguinte maneira:
1) Que nenhuma consideração de nenhum tipo os induziria a renunciar a sua religião.
2) Que jamais consentiriam em entregar seus melhores e mais respeitáveis amigos à custódia e discrição de seus piores e mais inveterados inimigos.
3) Que valorizavam mais a aprovação do Rei de reis que reina no céu antes que qualquer autoridade temporária.
4) Que suas almas lhes eram de maior preço que seus corpos.
Estas réplicas tão aguçadas e valorosas irritaram muito o parlamento de Torino; prosseguiram seqüestrando, com maior avidez que nunca, os valdenses que não agiam com a adequada precaução, os quais sofriam as mais cruéis das mortes. Entre estes, desafortunadamente, caiu em suas mãos Jeffrey Vamagle, ministro de Angrogne, a quem queimaram vivo por herege.
Depois pediram um considerável corpo de exército ao rei da França para exterminar totalmente os reformados dos vales do Piemonte; mas quando as tropas iam a empreender a marcha, os príncipes protestantes da Alemanha se interpuseram, e ameaçaram com enviar tropas para ajudar os valdenses, se atacados. O rei da França, não desejando entrar numa guerra, enviou uma mensagem ao parlamento de Torino comunicando-lhes que não podia por enquanto enviá-lhes tropas para atuar no Piemonte. Os membros do parlamento ficaram sumamente transtornados ante este contratempo, e a perseguição foi cessando gradativamente, porque só podiam dar morte aos reformados que podiam capturar por casualidade, e como os valdenses ficaram cada vez mais cautos, sua crueldade teve de cessar por falta de objetos sobre os quais ser exercida.
Os valdenses gozaram assim de vários anos de tranqüilidade; porém depois foram perturbados da seguinte maneira: o núncio papal chegou a Torino para falar ao duque de Sabóia, e lhe disse que estava surpreendido de que ainda não tivesse desarraigado de vez os valdenses dos vales do Piemonte, ou obrigado-os a entrar no seio da Igreja de Roma. Que não podia deixar de considerar como suspeita aquela conduta, e que realmente pensava que era um favorecedor de hereges, e que informaria disso em conseqüência a sua santidade, o Papa.
Ferido por esta recriminação, e não disposto a que dessem uma falsa imagem dele ao Papa, o duque decidiu agir com a maior dureza, para mostrar seu zelo, e para compensar sua anterior negligência com futuras crueldades. Assim, emitiu ordens expressas para que todos os valdenses assistissem regularmente à missa, sob pena de morte. A isto eles se recusaram de forma absoluta, e então ele entrou nos vales do Piemonte com um exército imponente, e deu início a uma feroz perseguição, na qual grandes quantidades de valdenses foram enforcados, afogados, destripados, amarrados a árvores e traspassados com lanças, despenhados, queimados, apunhalados, torturados no potro do tormento até morrer, crucificados cabeça abaixo, devorados por cães, etc.
Os que fugiram foram privados de todos seus bens, e suas casas, queimadas; se comportavam de maneira especialmente cruel quando capturavam m ministro ou um mestre, aos que faziam sofrer as mais refinadas e inconcebíveis torturas.
Se algum deles parecia vacilar em sua fé, não o matavam, senão que o enviavam às galeras, para que se convertesse pela força do infortúnio.
Os mais cruéis perseguidores que assistiam o duque nesta ocasião eram três: 1) Tomás Incomel, um apostata, porque tinha sido criado na religião reformada, mas renunciou a sua fé, abraçou os erros do papado, e virou monge. Era um grande libertino, entregue a crimes contra natura, e sordidamente desejoso do botim dos valdenses; 2) Corbis, homem de natureza cruel e feroz, cuja atividade era interrogar os presos; e 3) O preboste de justiça, que estava desejoso da execução dos valdenses, porque cada execução significava dinheiro para seu bolso.
Estas três pessoas eram totalmente carentes de misericórdia em sumo grau; e aonde quer que fossem havia a certeza de que correria sangue inocente. Aparte das crueldades exercidas pelo duque, por estas três pessoas e pelo exército, em suas diferentes marchas, se cometeram muitas barbaridades a nível local. Em Pignerol, cidade dos vales, havia um convento, cujos monges, vendo que podiam danificar os reformados com impunidade, começaram a saquear as casas e derrubar as igrejas dos valdenses. Ao não acharem nenhuma oposição, se apoderaram daqueles infelizes, assassinando os homens, encerrando as mulheres, e entregando as crianças a aias católico romanas.
Os habitantes católico-romanos do vale de são Martinho fizeram também tudo o que puderam para atormentar seus vizinhos valdenses. Destruíram suas igrejas, queimaram suas casas, se apoderaram de suas propriedades, roubaram seu gado, dedicaram suas terras a seus próprios usos, lançaram seus ministros na fogueira, e aos valdenses nos bosques, onde não tinham para subsistir mais que frutos silvestres, raízes, a casca das árvores, etc.
Alguns rufiões católico-romanos, tendo aprisionado um ministro que ia predicar, decidiram levá-lo a um lugar conveniente e queimá-lo. Ao saber disso seus fiéis, os homens se armaram, se lançaram em perseguição dos assassinos, e apareceram, decididos a resgatar seu ministro. Ao perceber isto os malvados, apunhalaram o coitado e, deixando-o tendido numa poça de sangue, se retiraram precipitadamente. Os atônitos fiéis fizeram o que puderam para salvá-lo, mas em vão; a arma tinha afetado órgãos vitais, e expirou enquanto o conduziam de volta a sua casa.
Tendo os monges de Pignerol um grande desejo de pôr as mãos sobre um ministro de uma cidade dos vales, chamada St. Germain, contrataram um bando de rufiões para seqüestrá-lo. estes caras foram conduzidos por um traidor, quem tinha sido antes criado do ministro, e que sabia perfeitamente um caminho secreto para a casa, pelo que podia levá-los sem alarmar a vizinhança. O guia chamou à porta e, a pergunta de quem ia, respondeu com seu próprio nome. O ministro, não esperando dano algum de uma pessoa a que havia coberto de favores, abriu de imediato a porta. Porém, ao ver o bando de facínoras retrocedeu, e fugiu por uma porta traseira. Mas todos se lançaram dentro, e o apresaram. Trás ter assassinado toda sua família, o levaram para o Pignerol, espetando-o o tempo todo com lanças, picas e espadas. Foi guardado durante muito tempo no cárcere, e depois acorrentado na estaca para ser queimado; então se ordenou a duas mulheres dos valdenses, que haviam renunciado a sua religião para salvarem suas vidas, que levassem lenha à fogueira para queimá-lo; e enquanto a preparavam, que dissessem: "Toma isto, malvado herege, em pagamento das perniciosas doutrinas que nos ensinaste". Estas palavras foram assim repetidas por elas a ele, ao qual ele replicou com calma: "Eu vos ensinei bem, porém desde então tendes aprendido o mal".
Então aplicaram fogo à lenha, e foi rapidamente consumido, invocando o nome do Senhor enquanto a voz lhe permitiu fazê-lo.
Enquanto as tropas de desalmados que pertenciam aos monges cometiam estes grandes desmandos pela cidade de St. Germain, assassinando e saqueando a muitos de seus habitantes, os reformados de Lucerna e de Angrogne enviaram alguns corpos de homens armados para ajudar a seus irmãos de St. Germain. Estes corpos atacavam com freqüência os facínoras, e amiúde os afugentavam, o qual aterrou tanto os monges que deixaram o mosteiro de Pignerol por certo tempo, até que conseguiram um corpo de tropas regulares para protegê-los.
O duque, vendo que não tinha conseguido o êxito desejado, aumentou muito suas tropas; ordenou que os bandos de bandidos que pertenciam aos monges se unissem a ele, e dispus um esvaziamento geral dos cárceres, com a condição de que as pessoas libertas portassem armas, e fossem constituídas em companhias ligeiras, para ajudarem no extermínio dos valdenses.
Os valdenses, informados destas ações, reuniram tudo o que puderam de suas propriedades, e abandonaram os vales, retirando-se às rochas e cavernas entre os Alpes; deve ser dito que os vales do Piemonte estão situados no pé daquelas prodigiosas montanhas dos Alpes, ou montes Alpinos.
O exército começou então a saquear e incendiar as cidades e povoados aonde chegavam; mas as tropas não podiam forçar as passagens dos Alpes, que eram defendidas valorosamente pelos valdenses, e que sempre resistiram a seus inimigos; porém se algum deles caía em mãos das tropas, podiam ter a certeza de que seriam tratados com paz dureza mais selvagem.
Um soldado que capturou um dos valdenses lhe arrancou a orelha direita, dizendo-lhe: "Levarei a meu país este membro deste malvado herege, para guardá-lo como uma raridade". Depois apunhalou o homem e o lançou numa vala.
Uma partida de tropas achou um venerável homem, de perto de uns cem anos, junto com sua neta, uma moça de uns dezoito anos, ocultos numa caverna. Assassinaram o pobre ancião da forma mais cruel, e depois trataram de violentar a moça; porém ela, fugindo à carreira, ao ver-se perseguida se lançou num precipício e morreu.
Os valdenses, a fim de poder repelir a força com a força de maneira mais eficaz, concertaram uma aliança com os poderes protestantes da Alemanha e com os reformados do Delfinado e de Pragela. Estes iam respectivamente a suprir forças armadas, e os valdenses decidiram, reforçados deste modo, abandonar os Alpes (onde pronto teriam perecido, porque se aproximava o inverno), e forçar os exércitos do duque a evacuar seus vales natais.
O duque de Sabóia estava já cansado da guerra; tinha-lhe custado grandes fadigas e ansiedades, muitos homens, e grandes quantidades de dinheiro. Tinha sido muito mais longa e sangrenta do que havia esperado, assim também como mais cara do que teria podido imaginar no princípio, pois pensou que o saqueio pagaria os custos da expedição; porém nisto errou, porque foram o núncio papal, os bispos, monges e outros clérigos, que assistiam ao exército e alentaram a guerra, os que ficaram com a maior parte das riquezas que haviam sido tomadas, sob diversas pretensões. Por esta razão, e pela morte da duquesa, da qual acabava de saber, e temendo que os valdenses, pelos tratados que haviam concertado, se tornassem mais poderosos que nunca, decidiu voltar a Torino com seu exército, e fazer a paz com os valdenses.
Cumpriu com esta resolução, embora muito em contra da vontade dos clérigos, que eram os maiores lucradores e os mais comprazidos com a vingança. Antes de poderem ser ratificados os artigos de paz, o próprio duque morreu, pouco depois de voltar a Torino; porém, em seu leito de morte deu estritas instruções a seu filho para acabar o que ele tinha já começado, e para ser o mais favorável possível aos valdenses.
O filho do duque, Carlos Manuel, sucedeu seu pai nos domínios de Sabóia, e ratificou plenamente a paz com os valdenses, seguindo as últimas instruções de seu pai, embora os clérigos fizeram tudo que puderam para persuadi-lo do contrário.

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