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sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Livro dos Mártires - Parte 19


Mais perseguições nos vales do Piemonte, no século dezessete
Giovanni Pelanchion, por recusar fazer-se papista, foi amarrado de uma perna ao rabo de uma mula, e arrastado pelas ruas de Lucerna, em meio das aclamações de uma desumana multidão, que não parava de apedrejá-lo e de gritar: "Está possuído pelo demônio, e nem o apedrejamento nem o arrastá-lo pelas ruas vai matá-lo, porque o demônio o mantém vivo!". Depois o levaram junto do rio, lhe cortaram a cabeça, e a deixaram, junto de seu corpo, sem sepultamento, sobre a ribeira.
Madalena, filha de Pedro Fontaine, uma bonita menina de dez anos, foi estuprada e assassinada pelos soldados. Outra menina de mais ou menos a mesma idade foi assada vida em Villa Nova; e uma pobre mulher, ao ouvir que os soldados iam para sua casa, tomou o berço em que seu bebê estava dormindo e se lançou correndo no bosque. Porém os soldados a viram e começaram a perseguí-la; para aliviar-se deixou o berço e o bebê e os soldados, em quando chegaram, assassinaram o pequeno, e recomeçaram a perseguição, acharam a mãe uma toca, a estupraram primeiro, e depois a esquartejaram.
Jacobo Michelino, principal ancião da igreja de Bobbio, e vários outros protestantes, foram pendurados por meio de ganchos fixados em seus ventres, e deixados assim para expirar em meio das mais horrendas dores.
A Giovanni Rostagnal, um venerável protestante de mais de oitenta anos, lhe cortaram o nariz e as orelhas, e lhe cortaram as partes carnosas do corpo, fazendo-o sangrar até morrer.
A sete pessoas —Daniel Seleagio, sua mulher, Giovanni Durant, Lodwich Durant, Bartolomeu Durant, Daniel Revel e Paulo Reynaud—, encheram suas bocas com pólvora, que uma vez inflamada voou suas cabeças.
Jacobo Birone, professor de Rorata, recusou mudar de religião, e foi então despido por completo; depois de exibi-lo tão indecentemente, lhe arrancaram as unhas dos pés e das mãos com pinças candentes, e lhe furaram as mãos com a ponta de uma adaga. Depois lhe amarraram umas cordas pelos furos, e foi levado pelas ruas com um soldado a cada lado. Ao chegar a cada esquina, o soldado da direita lhe infligia um corte em sua carne, e o soldado da esquerda lhe dava uma pancada, e ambos lhe diziam, ao mesmo tempo: "Irás à missa? Irás à missa?" Ele persistiu respondendo que não, pelo que finalmente o levaram até uma ponte, onde lhe cortaram a cabeça sobre a varanda, e a lançaram, junto com o corpo, no rio.
A Paulo Garnier, um protestante muito piedoso, tiraram-lhe os olhos, depois o esfolaram vivo e, esquartejando-o, seus membros foram expostos em quatro das casas principais de Lucerna. Suportou estes sofrimentos com a paciência mais exemplar, deu louvor a Deus enquanto pôde falar, e deu clara evidência de que confiança e resignação podem ser inspiradas por uma boa consciência.
No século doze começaram na Itália as primeiras perseguições sob o papado, em época de Adriano, um inglês que então era Papa. Estas foram as causas que levaram a perseguição:
Um erudito e excelente orador de Bréscia, chamado Arnoldo, chegou a Roma e predicou abertamente contra as corrupções e inovações que se haviam infiltrado na Igreja. Seus discursos eram tão simples e consistentes, e exalavam um espírito tão puro de piedade, que os senadores e muitos do povo aprovavam em grande modo e admiravam suas doutrinas.
Isto enfureceu de tal modo a Adriano que ordenou a Arnaldo que saísse da cidade no instante, como herege. Porém Arnaldo não obedeceu, porque os senadores a alguns dos principais do povo se colocaram de sua parte, e se resistiram à autoridade do Papa.
A Daniel Cardon, de Rocapiatta, apreendido por uns soldados, lhe cortaram a cabeça e, fritando-lhe os miolos, os comeram. A duas coitadas anciãs cegas de St. Giovanni as queimaram vivas; e a uma viúva de La Torre e sua filha foram levadas até o rio, e ali apedrejadas até morrer.
A Paulo Giles, que tratava de fugir de uns soldados, lhe dispararam, ferindo-o no pescoço; depois lhe cortaram o nariz, o queixo, o apunhalaram e deram seu cadáver aos cães.
Algumas das tropas irlandesas, tendo apreendido onze homens de Garcigliana, esquentaram um forno até ficar incandescente, e os obrigaram a empurrar-se uns a outros adentro, até que chegaram ao último, ao qual empurraram eles mesmos.
Michael Gonet, um homem de noventa anos, foi queimado até morrer; Baptista Oudri, outro ancião, foi apunhaldao; e a Bartolomeu Frasche furaram-lhe os calcanhares, através de onde passaram cordas; depois foi arrastado assim até o cárcere, onde suas feridas gangrenaram e assim morreu.
Madalena de la Pière, perseguida por alguns dos soldados, foi finalmente apresada e despenhada. Margarita Revelia e Maria Pravillerin, duas mulheres muito anciãs, foram queimadas vivas, e Michael Bellino e Ana Bochardno foram decapitados.
O filho e a filha de um vereador de Giovanni foram lançados desde uma forte pendente, e deixados morrer de inanição num profundo fosso no fundo. A família de um comerciante, ele mesmo, sua mulher e um bebê de braços, foram lançados por um precipício e assim destrocados; e José Chairet e Paulo Camicro foram esfolados vivos.
Ao ser perguntado Cipriano Bustia se renunciaria a sua religião e se converteria em católico-romano, este respondeu: "Prefiro antes renunciar à vida, ou virar cão"; a isto respondeu um sacerdote: "Por assim falar, renunciarás a vida, e serás lançado aos cães". Assim, o arrastaram ao cárcere, onde permaneceu por muito tempo sem alimento, até morrer de inanição; depois, lançaram seu cadáver diante da prisão, sendo devorado pelos cães da forma mais horrorosa.
Marguerita Saretta foi apedrejada até morrer, e depois lançada no rio; a Antônio Bartina lhe abriram a cabeça, e a José Pont lhe abriram o corpo de abaixo acima.
Estando Daniel Maria e toda sua família doente de febre, vários desalmados papistas entraram na casa, dizendo serem médicos práticos, e que tirariam a doença deles, o que fizeram esmagando as cabeças a todos os membros da família.
A três crianças de um protestante chamado Pedro Fine as cobriram de neve e as asfixiaram; a uma viúva anciã chamada Judite a decapitaram, e a uma bela jovem a despiram e empalaram, matando-a.
Lúcio, mulher de Pedro Besson, e que estava em avançado estado de gestação, que vivia num povoado perto dos vales do Piemonte, decidiu, se lhe for possível, fugir das terríveis cenas que por todas partes contemplava; tomou então seus dois pequenos, um de cada mão, e se dirigiu aos Alpes. Porém, no terceiro dia da viagem lhe sobrevieram as dores de parto, e deu a luz um menino que morreu devido a extrema inclemência do tempo, como assim também seus outros dois filhinhos; porque os três foram achados mortos a seu lado, e ela agonizante, pela pessoa a qual relatou os detalhes anteriores.
A Francisco Gros, filho de um clérigo, cortaram lentamente a carne de seu corpo em pedaços pequenos, e a colocaram num prato diante dele; dois de seus filhos foram feitos pedacinhos diante dele; e sua mulher foi amarrada a um poste, para que pudesse ver como faziam estas crueldades sobre seu marido e seus filhos. Os atormentadores se cansaram finalmente destas crueldades, cortaram as cabeças dos esposos e deram depois a carne de toda a família aos cães.
O senhor Tomás Margher fugiu a uma caverna, cuja boca cegaram os soldados, e morreu de fome. Judite Revelin e sete crianças foram barbaramente assassinados em seu leitos; e uma viúva de uns oitenta anos foi esquartejada pelos soldados.
A Tiago Roseno lhe ordenaram que orasse pelos santos, o que recusou absolutamente a fazer; alguns dos soldados o bateram violentamente com cacetes para obrigá-lo a obedecer, porém continuou recusando, e eles lhe dispararam, alojando muitas balas em seu corpo. Enquanto estava agonizando, lhe berravam: "Vai orar aos santos? Vai orar aos santos?", e ele respondia: "Não! Não! Não!" Então um dos soldados, com uma espada de folha larga, fendeu-lhe a cabeça pela metade, pondo fim a seus sofrimentos neste mundo, pelo que sem dúvida será gloriosamente recompensado no vindouro.
Susana Gaequin, uma moça à qual um soldado tentava estuprar, opus uma denodada resistência, e na luta o empurrou um precipício, onde foi destroçado pela queda. Seus camaradas, em lugar de admirar a virtude desta jovem e de aplaudi-la por defender tão nobremente sua castidade, se lançaram sobre ela com suas espadas, e a despedaçaram.
Giovanni Pulhus, um pobre camponês de La Torre, foi apreendido pelos soldados por protestante, e o marquês de la Pianesta ordenou que fosse executado num lugar perto do convento. Ao chegar na forca, se aproximaram vários monges, e fizeram tudo o possível por persuadi-lo a renunciar a sua religião. Porém lhes disse que jamais abraçaria a idolatria, e que sentia-se feliz de ser considerado digno de sofrer pelo nome de Cristo. Então lhe fizeram lembrar quanto sofreriam sua mulher e filhos, que dependiam de seu trabalho, se ele morria. A isto respondeu: "Gostaria que minha mulher e filhos, igual que eu, considerassem mais suas almas antes que seus corpos, e o mundo vindouro antes que este; e a respeito da angústia em que os deixo, Deus é misericordioso, e proverá para eles enquanto sejam dignos de Sua proteção". Ao ver a inflexibilidade deste pobre homem, os monges gritaram: "Acaba com ele, acaba com ele!", o que o carrasco fez de imediato; o corpo foi depois despedaçado e lançado no rio.
Paulo Clemente, ancião da igreja de Rossana, apreendido pelos monges de um monteiro vizinho, foi conduzido à praça do mercado, onde alguns protestantes acabavam de ser executados pelos soldados. Mostraram-lhe os cadáveres, a fim de intimidá-lo com a visão. Ao ver o constrangedor espetáculo disse, com calma: "Podeis matar o corpo, mas não podeis prejudicar a alma de um verdadeiro crente; e acerca do terrível espetáculo que me tendes mostrado, podeis ter a certeza de que a vingança de Deus alcançará os assassinos destas coitadas pessoas, e os castigará pelo inocente sangue derramado". Os monges sentiram-se tão cheios de fúria por esta resposta que ordenaram o enforcassem de imediato; e enquanto ele pendia, os soldados se divertiram colocando-se a certa distância e empregando seu corpo como alvo de seus disparos.
Dn Rambaut, de Vilário, pai de uma numerosa família, foi apreendido e levado a prisão junto com vários outros, no cárcere de Paysana. Aqui foi visitado por vários sacerdotes, que com uma insistente importunidade fizeram tudo o possível por persuadi-lo a renunciar à religião protestante e tornar-se papista. Mas recusou rotundamente e os sacerdotes, ao verem sua decisão, pretenderam sentir piedade por sua numerosa família, e lhe disseram que poderia, com tudo, salvar sua vida se afirmava sua crença nos seguintes artigos:
1)     A presença real na hóstia.
2) A Transubstanciação.
3) O Purgatório.
4) A infalibilidade do Papa.
5) Que as missas realizaras pelos defuntos livravam almas do purgatório.
6) Que rezar aos santos dá remissão dos pecados.
O senhor Rambaut disse aos sacerdotes que nem sua religião nem seu entendimento nem sua consciência lhe permitiriam subscrever nenhum destes artigos, pelas seguintes razões:
1) Que acreditar na presença real na hóstia é uma chocante união de blasfêmia e idolatria.
2) Que imaginar que as palavras de consagração executam o que os papistas chamam de transubstanciação, convertendo o pão e o vinho no verdadeiro e idêntico corpo e sangue de Cristo, que foi crucificado, e que depois ascendeu ao céu, é uma coisa demasiado torpe e absurda para que acredite nela sequer uma criança que tiver a mínima capacidade de raciocínio; e que ns senão a mais cega superstição poderia fazer que os católico-romanos depositassem sua confiança em algo tão ridículo.
3) Que a doutrina do purgatório é mais inconseqüente e absurda que um conto de fadas.
4) Que era uma impossibilidade que o Papa fosse infalível, e que o Papa se arrogava de forma soberba algo que somente podia pertencer a Deus como ser perfeito.
5) Que dizer missas pelos mortos era ridículo, e somente tinha a intenção de manter a crença na fábula do purgatório, por quanto a sorte de todos estava definitivamente decidida ao partir a alma do corpo.
6) Que a oração aos santos para remissão dos pecados é uma adoração fora de lugar, por quanto os mesmos santos têm necessidade da intercessão de Cristo. Assim, já que somente Deus pode perdoar nossos erros, deveríamos ir somente a Ele em busca do perdão.
Os sacerdotes sentiram-se tão enormemente ofendidos ante as respostas do senhor Rambaut aos artigos que eles queriam se subscrevesse, que decidiram abalar sua resolução mediante o mais cruel método imaginável. Ordenaram que lhe cortassem a circulação dos dedos das mãos até o dia que ficasse sem eles; depois passaram aos dedos dos pés; depois, alternadamente, foram cortando-lhe um dia uma mão, outro dia um pé; porém ao ver que suportava seus sofrimentos com a mais admirável paciência, fortalecido e resignado, e mantendo sua fé com uma resolução irrevogável e uma constância inamovível, o apunhalaram no coração, e deram seu corpo como comida para os cães.
Pedro Gabriola, um cavalheiro protestante de considerável linhagem, foi apresado por um grupo de soldados; ao negar-se a renunciar a sua religião, penduraram nele uma grande quantidade de pequenas sacolas de pólvora por todo seu corpo, e acendendo-as, o voaram em pedaços.
A Antônio, filho de Samuel Catieris, um coitado rapaz mudo totalmente inerme, o despedaçaram um grupo de soldados. Pouco depois os mesmos desalmados entraram na casa de Pedro Moniriat e cortaram as pernas de toda a família, deixando-os sangrar até morrer, incapacitados para atender-se a si mesmos ou uns a outros.
Daniel Benech foi apreendido, talharam seu nariz, cortaram suas orelhas, e depois o esquartejaram, pendurando cada um dos quartos de uma árvore. A Maria Monino lhe romperam as mandíbulas, e depois a deixaram sofrer até morrer de inanição.
Maria Pelanchion, uma bela viúva, vizinha da cidade de Vilário, foi apresada por um pelotão das brigadas irlandesas que, após espancá-la cruelmente, a estupraram, a arrastaram até uma alta ponte que cruzava um rio, a despiram da forma mais indecente, a penduraram pelas pernas da ponte, cabeça abaixo, e depois, entrando em barcas, dispararam contra ela como alvo até que morreu.
Maria Nigrino e sua filha, que era retrasada mental, foram esquartejadas nos bosques, e seus corpos deixados como pasto para as feras; Susana Bales, uma viúva de Vilário, foi emparedada, morrendo de fome. Susana Calvio tentou fugir de alguns soldados e se ocultou num celeiro. Eles então prenderam fogo na palha e a queimaram.
Paulo Armand foi cortado em pedaços; um menino chamado Daniel Bextino foi queimado; a Daniel Michialino lhe arrancaram a língua, e o deixaram morrer nesta condição; e André Bertino, um ancião de idade muito avançada, que era coxo, foi mutilado da forma mais horrenda, e afinal destripado, e suas entranhas levadas na ponta de uma lança.
A Constância Bellione, uma dama protestante apresada devido a sua fé, um sacerdote lhe perguntou se renunciaria ao diabo e iria à missa; a isto ela respondeu: "Eu fui criada numa religião pela qual foi-me ensinado sempre a renunciar ao diabo; porém, se eu aceder aos vossos desejos e assistisse à missa, certamente o acharia ali sob diversas aparências". O sacerdote se enfureceu por estas palavras e lhe disse para desdizer-se ou sofreria cruelmente. A dama, contudo, disse valorosamente que apesar de todos os sofrimentos que pudesse infligi-lhe ou de tosos os tormentos que inventasse, ela manteria sua consciência pura e sua fé inviolada. O sacerdote ordenou então que cortassem fatias de sua carne de várias partes de seu corpo, crueldade que ela suportou com a paciência mais inusitada, somente dizendo ao sacerdote: "Que horrorosos e duradouros tormentos tu sofrerás no inferno pelas coitadas e passageiras dores que eu agora sinto!" Exasperado por suas palavras, e querendo fechá-lhe a boca, o sacerdote ordenou a um pelotão de mosqueteiros que se aproximassem e disparassem sobre ela, com o qual morreu logo, selando seu martírio com seu sangue.
Por recusar mudar de religião e abraçar o papismo, uma jovem chamada Judite Mandon foi acorrentada a uma estaca, e se dedicaram a lança-lhe paus desde uma distância, da mesma forma que o bárbaro costume que se praticava antigamente nas terças-feiras de Carnaval, do chamado lançamento contra rochas. Com este desumano proceder, os membros da infeliz moça foram espancados e mutilados de forma terrível, e finalmente uma das varas partiu-lhe o crânio.
Davi Paglia e Paulo Genre, que tentavam fugir aos Alpes, cada um deles com seu filho, foram perseguidos e alcançados pelos soldados numa grande planície. Ali, para divertir-se, os caçaram, espetando-os com suas espadas e perseguindo-os até que caíram rendidos pela fadiga. Quando viram que estavam esgotados e que já não poderiam diverti-los mais, os soldados os despedaçaram e deixaram seus corpos mutilados no lugar.
Um moço de Bobbio, chamado Miguel Greve, foi apreendido na cidade de La Torre, levado a uma ponte, e lançado no rio. Como podia nadar muito bem, se dirigiu rio abaixo, achando que poderia fugir; porém os soldados e a plebe o seguiram por ambas margens do rio, apedrejando-o de contínuo, até que, tendo recebido uma pedrada na fonte da cabeça, perdeu o conhecimento e afundou, afogando-se.
A David Armand lhe ordenaram que colocasse sua cabeça sobre um pedaço de mármore, e um soldado, com um martelo, lhe esmagou o crânio. David Baridona, apreendido em Vilário, foi levado à La Torre, onde, ao negar-se a renunciar a sua religião, o atormentaram acendendo-lhe pauzinhos de enxofre amarrados entre os dedos de suas mãos e de seus pés. Depois lhe arrancaram as carnes com pinças candentes, até que expirou. Giovanni Barolina e sua mulher foram lançados numa estanque de água e obrigados a manter as cabeças embaixo da água, por médio de forcas e pedras, até afogarem.
Vários soldados foram até a casa de José Garniero, e antes de entrar dispararam contra a janela, para avisar de sua chegada. Uma bala de mosquete deu num dos peitos da senhora de Garniero enquanto estava dando de mamar a um bebê com o outro. Ao descobrir suas intenções, rogou-lhes desesperadamente que perdoassem a vida do bebê, o que fizeram, enviando-o de imediato a uma aia católico-romana. Depois pegaram o marido e o penduraram em sua própria horta, e deram um tiro na cabeça à mulher, deixando-a banhada em sangue, e a seu marido enforcado.
Um ancião chamado Isaias Mondon, piedoso protestante, fugiu dos desapiedados perseguidores refugiando-se numa fenda de um penhasco, onde sofreu as mais terríveis privações; em médio do inverno viu-se obrigado a jazer sobre a pedra nua, sem nada para cobrir-se; se alimentava das raízes que podia arrancar perto de seu miserável esconderijo, e a única forma em que podia procurar-se bebida era colocar neve em sua boca até derretê-la. Contudo, até ali o acharam alguns dos desumanos soldados que, após espancá-lo implacavelmente, o levaram a Lucerna, espetando-o com a ponta de suas espadas. Sumamente debilitado por suas passadas circunstâncias, e esgotado pelas pancadas recebidas, caiu no caminho. Eles começaram de novo a bater nele para obrigá-lo a seguir, mas ele, de joelhos, lhe implorou que acabassem com seus sofrimentos, dando-lhe morte. Afinal acederam, e um deles, adiantando-se, disparou um tiro na cabeça com sua pistola, dizendo: "Toma, herege, aqui tens o que pediste!".
Maria Revol, uma digna protestante, recebeu um disparo nas costas enquanto caminhava por uma rua. Caiu ferida no chão mas, recuperando suficientes forças, ficou de joelhos e, levantando suas mãos ao céu, orou da forma mais fervorosa ao Todo Poderoso; então vários soldados, perto dela, dispararam a discrição, alcançando-a muitas balas, pondo fim no instante a seus sofrimentos.
Vários homens, mulher e crianças se ocultaram numa grande caverna, onde permaneceram a salvo durante várias semanas. Era costume que dois dos homens saíssem quando necessário, para procurar provisões a escondidas. Mas um dia foram vistos, e a caverna descoberta, e pouco depois apareceu diante da boca da gruta uma tropa católica. Os papistas que se congregaram ali naquela ocasião eram vizinhos e conhecidos íntimos dos protestantes da caverna; e alguns eram inclusive parentes. Por isso, os protestantes saíram e lhes imploraram, pelos laços da hospitalidade, pelos vínculos do sangue, e como velhos conhecidos e vizinhos, que não os assassinassem. Mas a superstição vence todos os sentimentos naturais e humanos, e os papistas, cegados pelo fanatismo, disseram-lhes que não podia mostrar graça alguma a hereges, e por isso, que deviam preparar-se para morrer. Ao ouvir isto, e conhecendo a assassina obstinação dos católico-romanos, os protestantes se prostraram, levantando as mãos e os corações ao céu, orando com grande sinceridade e fervor, e depois se lançaram no solo, esperando pacientemente sua sorte, que pronto foi selada, porque os papistas se lançaram sobre eles com fúria selvagem e, cortando-os em pedaços, deixaram seus corpos mutilados na caverna.
Giovanni Salvagiot passava diante de uma igreja católico romana e não tirou o chapéu; foi seguido por alguns da congregação que, lançando-se sobre ele, o assassinaram; e Tiago Barrel e sua mulher, aprisionados pelo conde de St. Secondo, um dos oficiais do duque de Sabóia, foram entregues aos soldados, que cortaram os peitos da mulher, o nariz do homem, e depois os remataram com um disparo na cabeça.
Um protestante chamado Antônio Guigo, que estava vacilando, foi a Periero, com a intenção de renunciar a sua religião e abraçar o papismo. Comunicando seu designo a alguns sacerdotes, estes o elogiaram muito, e fixaram um dia para sua recessão pública. Nesse ínterim, Antônio ficou contanto de sua perfídia, e sua criação o atormentou de tal modo, dia e noite, que decidiu não desdizer-se, mas fugir. Tendo empreendido a fuga, pronto deram falta dele, e foi perseguido e apreendido. As tropas, pelo caminho, fizeram tudo o possível por levá-lo de novo a sua anterior decisão de arrepender-se, mas ao ver que seus esforços eram inúteis, o espancaram violentamente no caminho, e, chegando perto de um precipício, ele aproveitou a oportunidade, pulando e despenhando-se.
Um cavalheiro protestante sumamente rico, de Bobbio, provocado uma noite pela insolência de um sacerdote, respondeu com grande dureza; entre outras coisas disse que o Papa era o Anticristo, a missa uma idolatria, o Purgatório uma farsa e a absolvição uma armadilha. Para vingar-se o sacerdote contratou cinco bandidos que aquela mesma noite irromperam na casa do cavalheiro e se apoderaram dele com violência. Este cavalheiro se assustou terrivelmente, e implorou graça de joelhos, porém os bandidos o mataram sem vacilação.

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